Thursday, June 15, 2006

Sobre Paz e Guerra...


Há posts que pedem títulos, mas não nos dizem como encontrá-los. Foi o caso do texto abaixo. Matutávamos sobre o que usar para falar de escritos, Borges, rascunhos, criação sempre inacabada... À frente, nos observava o alentado clássico do Raymond Aron,"Paz e Guerra Entre as Nações, paquidérmico com suas 937 páginas, indiferente à nossa dúvida semântico-literária. Belo nome esse, Paz e Guerra Entre as Nações. Decidimos que, sempre quando houver a dúvida, será esse o título que nos socorrerá.

(pura coincidência: como Borges, Aron foi um grande conservador, para alguns; questionava os marxismos, o existencialismo de Sartre, mas foi a favor da luta de libertação da Algéria. Foi um exemplo de liberal e democrata, para outros. mas isso não vem ao caso, a questão é que o livro estava em frente, nos olhando, divertindo-se com nosso impasse, e fomos lá e roubamos o título dele. só isso)

Paz e Guerra entre as Nações


Feriado, tempo de escrever e se livrar dos compromissos acumulados. Se você já se viu obrigado a produzir algum trabalho escrito, e, no fim, ficou insatisfeito com o resultado, provavelmente é porque poderia ter ficado melhor mesmo. Certamente poderia ser melhorado. Talvez por isso essa tendência a deixar tudo para o último instante, quando o prazo esgotado dá o veredito final sobre a qualidade do texto. Bom é aquele que fica pronto a tempo.
Logicamente não estamos falando de literatura. Sobre isso, quem pode dar alguma opinião é Jorge Luis Borges, colaborador compulsório deste nosso sítio. Fala, Borges:

"O conceito de texto definitivo não corresponde senão à religião ou ao cansaço."

Tuesday, June 13, 2006

Futebol-arte

_Algum problema aí, no banco?

_É essa chuteira, fica criando bolha,
não dá nem para correr direito...

Sunday, June 11, 2006

Nas águas da Marlene



Aquarela é negócio perigoso. Por pouco, desanda. A Marlene Dumas deve ter tido a sorte de não topar com aqueles caderninhos de colorir, acompanhados de potes de pigmentos, na infância, quando as crianças aprendem a NÃO pintar decentemente com aquarela. A infância dela, aliás, foi na África do Sul.

Ela usa, como modelo, fotos e imagens pré-fabricadas, que personaliza em manchas e transparências imediatamente reconhecíveis como sua marca. Tem produzido imagens de forte conteúdo erótico: os críticos vêem em seus trabalhos sinais da infância branca, sensível, em um país carregado pela tinta do racismo.

Ela se define, mas não explica muito:

“I am against: general ideas / the nude / the appropriation of images / the mystification of the untitled / the glorification of artistic doubt / the fuzzy edges of sensitivity / old sins / and useless guilt.”

"Sou contra: idéias gerais/ o nu/a apropriação de imagens/a mistificação do sem-título/a glorificação da dúvida artística/os limites borrados da sensibilidade/velhos pecados/ e culpa inútil."

Saturday, June 10, 2006

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces


sem título - Marta M. - aguada s/ papel

Friday, June 09, 2006

A cor dos bytes


Essa, copiamos do Bicarato, para dar de presente a quem sabe mexer com páginas da web. Nós não temos nem idéia. Mas adoramos.

O obscurantismo na arte


Apagão no Masp e Gilberto Gil cantando na Alemanha, em um evento paralelo à Copa, foram as principais notícias da semana passada no clipping semanal que a ArtForum faz com notícias de todo o mundo. Não sei houve alguma intenção crítica na publicação das duas notas, uma colada na outra. A ArtForum costuma publicar só três notas, a cada vez.
Nesta semana, a revista fala de Guernica, que não sairá do Reína Sofia para uma exposição em Bilbao, rememorativa do massacre dos guernicanos (ou, sei lá, guerniquenses) pelos bombardeios de Franco. A obra andou o mundo no começo do século (esteve até em São Paulo) enquanto se cumpria o desejo de Picasso, de manter o quadro fora da Espanha enquanto durasse a ditadura do generalíssimo.
Quando voltou a democracia, o Moma quis manter o trabalho de Picasso em Nova York, com o argumento de que o pintor catalão havia condicionado a volta da Guernica à Espanha ao regresso da República _ e os espanhóis haviam reinstaurado a monarquia. Papo de advogado americano.

Guernica está lá, e, felizmente, em uma disposição diferente da anterior, num anexo do Prado, com a escultura em que meti a cabeça em 1992, quando procurava uma posição para fotografar o enorme quadro de Picasso. Os jornais espanhóis falavam em uns casos de gangrena em algum vilarejo, e a Marta se assustou quando viu minha testa sangrando.
Foi meu primeiro grande choque com a arte moderna.

a paródia de Guernica, acima, que mostra a universalidade da obra de Picasso, está neste sítio AQUI

Thursday, June 08, 2006

Rir é o Melhor Remédio


Aí, aquela senhora deu um rápido olhar em direção à obra e, virando-se para Henri Matisse, comentou: "mas, senhor Matisse, essa mulher está verde!!".
Matisse, calmo, depôs o pincel e explicou: "minha senhora, isso não é uma mulher, é uma pintura".
OK, seus amigos já não aguentam mais ouvir você contar essa história, e bradam por outro episódio interessante e revelador da história da Arte. Foi pensando em você, bem-humorado popularizador do denso e hilariante ambiente das Musas, que descobrimos esse site AQUI.
Michelangelo, com um pouquinho de pó de mármore, trapaceando com um crítico amador; Leonardo Da Vinci e sua comovente experiência com Jesus e Judas Iscariotes; Andy Warhol e seu "Estúdio Caixa de Sapatos"; Pollock, o mijão. Anedotas de todo gênero, das impressionistas às conceituais.
É uma pena que seja em inglês. Se pedirem muito, faremos algumas traduções.
Mas isso é pouco provável, o blogue é novo e a audiência seleta. Pequena mesmo.
p.s.: se os sintomas não desaparecerem, procure um médico.

Tuesday, June 06, 2006

O amarelo por último




Amarelo é a mais vívida das cores, por isso foi a última que ele viu, antes de perder a visão, diz Jorge Luis Borges, numa entrevista histórica para a Paris Review, da qual só essa parte AQUI está liberada na Internet.

Serve de pretexto para que nossos leitores conheçam uma excelente seção da revista, DNA of Literature. Centenas de entrevistas da revista com escritores, críticos, ensaístas, o diabo.

(bom, o diabo não sabemos se tem, mas deve estar lá sim, sob pseudônimo).

Serve também para ver se a Marta toma vergonha e bota aqui o post sobre Marlene Dumas, que ela está devendo.

Saturday, June 03, 2006

Encontros Literários I

"O que diferencia o homem dos outros primatas é uma apreciação muito maior do fator tempo"
(Fayga Ostrower - Criatividade e Processos de Criação)


"Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada"
"Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e ser devorado depois?"
(Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas)

ecce homo

(Sergio P. encáustica s/ tábua de carne. 2005)




(marta m.-crayon s/ papel)

retrato


(foto: Sergio P.. Digimax 202 2.0 megapixels)

Manifesto 2 - Arte e Responsabilidade


Chama-se mecânico ao todo se alguns de seus elementos estão unificados apenas no espaço e no tempo por uma relação externa e não os penetra uma unidade de sentido. As partes desse todo, ainda que estejam lado a lado e se toquem, em si mesmas são estranhas umas a outras.
Os três campos da cultura humana _ a ciência, a arte e a vida _ só adquirem unidade no indivíduo que os incorpora à sua própria unidade. Mas essa relação pode tornar-se mecânica, externa. Lamentavelmente, é o que acontece com maior freqüência. O artista e o homem estão unificados em um indivíduo de forma ingênua, o mais das vezes mecânica: temporariamente o homem sai da "agitação do dia a dia" para a criação como para outro mundo "de inspiração, sons doces e orações". O que resulta daí? A arte é uma presunção excessivamente atrevida, é patética demais, pois não lhe cabe responder pela vida que, é claro, não lhe anda no encalço. "Sim, mas onde é que nós temos essa arte _ diz a vida _, nós temos a prosa do dia a dia".
Quando o homem está na arte não está na vida, e vice-versa. Entre eles, não há unidade e interpenetração do interno na unidade do indivíduo.
O que garante o nexo interno entre os elementos do indivíduo? Só a unidade da responsabilidade. Pelo que vivenciei e compreendi na arte, devo responder com minha vida para que todo o vivenciado e compreendido nela não permaneçam inativos. No entanto, a culpa também está vinculada à responsabilidade. A vida e a arte não devem só arcar com a responsabilidade mútua mas também com a culpa mútua. O poeta deve compreender que a sua poesia tem culpa pela prosa trivial da vida, e é bom que o homem da vida saiba que a falta de existência e a falta de seriedade das suas questões vitais respondem pela esterilidade da arte. O indivíduo deve tornar-se inteiramente responsável: todos os seus momentos devem não só estar lado a lado na série temporal de sua vida mas também penetrar uns nos outros na unidade da culpa e da responsabilidade.
E nada de citar a inspiração para justificar a irresponsabilidade. A inspiração que ignora a vida e é ela mesma ignorada pela vida não é inspiração, mas obsessão. O sentido correto e não o falso de todas as questões antigas, relativas à inter-relação de arte e vida, à arte pura etc, é o seu verdadeiro patos apenas no sentido de que arte e vida desejam facilitar mutuamente sua tarefa, eximir-se da sua responsabilidade, pois é mais fácil criar sem responder pela vida e mais fácil viver sem contar com a arte.
Arte e vida não são a mesma coisa, mas devem tornar-se algo singular em mim, na unidade de minha responsabilidade.

(Mikhail Bakhtin, Estética da Criação Verbal, tradução de Paulo Bezerra, Martins Fontes, 2003)

Entredentes


foto Sergio P. (samsung digimax 202)

Labirinto - Homenagem a Borges

Manifesto Verbo




Bukowski _ já dizia o Truman Capote _ confundia datilografia com literatura. Mas em um poema ele acertou; e é ele, traduzido por nós, nosso primeiro manifesto (na tradução preferimos trocar words por "verbo", por carinho à eufonia):

words like wine, words like blood, words/ out of the mouth of past loves dead. / words like bullets, words like bees, words for the/ way the good die and the bad live on/ words like putting on a shirt/ words like flowers and words like wolves and / words like spiders and words like hungry/ dogs./ words like mine/ gripping the page/ like fingers trying to climb/ an impossible mountain./ words like a tiger raging in the/ belly./ words like putting on my shoes./ words shaking the walls like fire and/ earthquake./ the early days were good, the middle days/ were better, now is/ best./ words love me./they had chosen me,/ separeted me from the/ pack.

Verbo como vinho, verbo como sangue, verbo/ saído dos lábios de amores defuntos/ verbo como balas, verbo como abelhas/ verbo pelo/ modo como os bons morrem e os maus se viram/ verbo como pondo a blusa/ verbo como flores e verbo como lobos e/ verbo como aranhas e verbo como cães/ famintos./ verbo como o meu/pingando na página/como dedos que tentam escalar/ uma montanha impossivel./verbo como um tigre nas entranhas em/fúria/verbo como eu calço os sapatos/verbo sacudindo as paredes como fogo e/terremoto./o começo era bom, o meio/ melhor; agora é/ o máximo./ palavras me amam/elas me escolheram/ e me separaram/da massa.

(imagem: Marta M.: máquina 1. grafite e bastão de cera s/ papel. 2004)